O parto é da gestante: assistência humanizada

O parto deve ser uma experiência de empoderamento para a gestante e sua família, construída por meio de uma assistência humanizada baseada em evidências científicas. Neste artigo, reforço a importância de respeitar o protagonismo da mulher, promover um pré-natal personalizado e contar com uma equipe multidisciplinar para oferecer cuidado acolhedor e eficaz. Também destaco a necessidade de democratizar o acesso ao parto humanizado, transformando-o em um direito para todas as mulheres, e não um privilégio.

Como obstetra, acredito que o nascimento é um momento de descobertas para quem gesta e a sua família e traz consigo uma possibilidade de empoderamento que raramente se vive em outras situações. Mas isso só é possível através de uma assistência centrada em evidências científicas

Tenho como compromisso garantir que cada mulher se sinta ouvida, respeitada, informada e livre para fazer suas escolhas, desde o pré-natal até o momento do nascimento.

A assistência humanizada começa com o acesso à informação e explicar o que a literatura científica expõe sobre a segurança no parto é essencial para que as pessoas façam escolhas conscientes. E quando falamos em humanização, estamos falando de um atendimento baseado em três pilares principais: evidência científica, protagonismo da mulher e acolhimento. Esses princípios são respaldados por diretrizes de instituições respeitadas, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), que destaca, por exemplo, a importância de respeitar o plano de parto da mulher e promover um cuidado centrado na paciente.

Durante décadas, a autonomia do corpo de quem gesta foi gradualmente transferida para as mãos dos médicos, o que resultou em um aumento de intervenções desnecessárias. Felizmente, o movimento de humanização tem ajudado a resgatar esse protagonismo. Quando a pessoa gestante entra no consultório, é essencial que ela seja tratada como uma parceira nas decisões, e não apenas como "alguém carregando um bebê." Isso significa que ela deve ter autonomia e informação embasada nas boas práticas médicas para decidir o que poderá ser feito ou não  com o seu corpo. A ideia é não tutelar e sim informar.

E claro que um pré-natal individualizado é o ponto-chave dessa abordagem. Cada pessoa, cada família nas suas diferentes constituições trazem uma história, expectativas e medos diversos, e um atendimento “único para todas” simplesmente não é suficiente. Precisamos ouvir suas histórias, entender seus desejos e adaptar o plano de parto para que ela tenha uma experiência positiva e segura. Outro aspecto crítico é a necessidade de uma equipe multidisciplinar. Estudos mostram que o suporte de profissionais como doulas, parteiras, psicólogos e fisioterapeutas durante o pré-natal e o parto reduz complicações e intervenções desnecessárias, além de promover o bem-estar físico e emocional da gestante.

Infelizmente, o acesso ao parto humanizado ainda é restrito a mulheres com maior poder aquisitivo. No Brasil, muitas gestantes ainda enfrentam barreiras para receber esse tipo de atendimento principalmente mulheres pretas e periféricas, e práticas invasivas como a episiotomia (corte realizado no períneo da mulher - entre a vagina e o ânus - no final do parto, quando a cabeça do bebê está saindo) ainda são utilizadas sem necessidade, mesmo que em menor escala do que no passado. Dessa forma, precisamos de uma transformação cultural e educacional para que a humanização seja um direito de todas, e não um privilégio.

A humanização no parto não é só uma abordagem médica, mas uma forma de devolver a quem gesta o direito ao protagonismo em uma das experiências mais importantes de suas vidas. E, no final, a empatia é o que realmente transforma o atendimento obstétrico. Quando enxergamos quem gesta como uma parceira e nos colocamos no lugar dela, conseguimos oferecer o cuidado que ela merece.

Dr. Paulo Noronha

Médico Obstetra

CRM-SP 105530 RQE 75863


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¹ Cochrane Review
² Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS) e Nascer no Brasil II

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